sobre meninas e flores

eu sou um cálice vazio.
eu sou a metáfora de um amor caduco.
eu sou o cadeado velho e enferrujado.
eu sou aquela que se apaixona por um perfil. ou por uma mão.
(desculpe a cacofonia)
eu sou uma nota desafinada.
eu sou um conselho mal dito. maldito.
(bendito que eu o seja!)
eu sou uma idéia inacabada.

eu tenho medo do mar.
a imensidão me assusta.

complete o cálice.
com água.
mas só até a metade.

"atos terroristas"

todas as boas idéias já foram feitas. e roubadas.

todas as boas causas um dia se cansam
e se perdem na vida.

e na sala de estudos: se eles soubessem no que eu estou pensando, não estariam tão concentrados assim!

miopia

eu não quero mais perguntas com o olhar.

eu preciso de respostas tocáveis.

eu não quero mais responder com os olhos...

eu te vejo, te pergunto e te respondo.

mas não te espero.

sobre a efemeridade dos fatos

às vezes, eu subo até as nuvens

e fico suja de fuligem...

mas sempre tem uma vozinha que diz:

desce daí, menina! e vai tomar um banho!

interna

então eu me arrisco e me divirto.

mas não entram no clima.

escorrego na casca da banana.

não me importo.

aí eu me pergunto...

ou melhor, te pergunto:

pra que tantas limitações se tudo é momentâneo?

"o mundo é um moinho..."

como disse um poeta, faz escuro mas eu canto.
não importa o tom.
eu canto.
canto para ver as folhas caídas no chão de outono.
canto para te fazer dormir.
(é fácil se apaixonar de olhos fechados)
canto para a parede áspera
(talvez se torne macia...)
canto, num canto,
para completar o dia.

"ainda é cedo, amor... mal começaste a conhecer a vida..."

macetes

eu não posso me esquecer que por você nunca rezei tanto.

a roda do mundo gira, camará...

quem vê, ri.

lênin era bolchevique.
kerensky, menchevique.

não se esqueça da batalha de waterloo.

a distância entre dois pontos é calculada pela raiz quadrada da soma de delta x ao quadrado e de delta y ao quadrado.

a oxidação acontece no anodo. a redução no catodo.

minas gerais é a primeira em agropecuária.

a fenolftaleína fica vermelha em meio básico e incolor em meio ácido.
o tornassol fica azul em meio básico e vermelho em meio ácido.

as mosquinhas de banheiro não nascem por geração espontânea.


"o futuro está sempre a sua frente. ou as suas costas, cada vez que você dá meia volta."
do filme Yaaba, de Idrissa Ouedraogo, de Burkina Faso.

de primeira

"lá na minha terra não tinha maçã. só fui comer pela primeira vez aos quinze anos. só quem tinha dinheiro comia maçã. eu pensava que devia ser uma fruta muito gostosa porque era a fruta do pecado, sabe? aí depois eu vi que não tinha tanta graça assim."

relato da dona maria.


o que tem mais graça? a fruta ou o pecado?

se fruta tem todas essas conotações sexuais...

a feira é um bordel.

delícias

comer frutas depois do almoço
e se lambuzar

passar três eternidades comendo caqui

brincar com as jabuticabas

sentir o cheiro dos moranguinhos

fazer estrelas com a graviola

sorrir um pedaço de melancia.


é, eu também estou um bagaço.
mas logo logo viro polpa.

me acompanha?

pelas costas

... mas muito mais interessante do que suas mãos

é a textura dos seus cabelos.

agradecida

"I made it through the wilderness
Somehow I made it through
Didn't know how lost I was
Until I found you
I was beat incomplete
I'd been had,
I was sad and blue
But you made me feel
Yeah, you made me feel
Shiny and new"

(nosso prazer secreto)

Dedico pra uma pessoinha supimpa!

É tão bom quando se descobre bonitas amizades,
perto de você,
que antes,
passavam quase que despercebidas!

Traz felicidade e esperança!

Tudo e todos de bom pra você!
(ouvi isso de alguém e gostei)"

mari, não tenho muitas palavras.
o mundo virtual seria mais completo se pudessemos ver a expressão no rosto das pessoas.

tá, eu sei que existe web cam.
mas eu não tenho!

presentes

a rotina doida,
o dia a dia atarefado,
os compromissos inadiáveis
quase me fizeram esquecer do meu aniversário.

mas a minha sorte é que eu estou rodeada de pessoas lindas,
que me ajudaram a lembrar dessa data.

abraços, sorrisos, palavras, imagens, mensagens, ligações.
cada uma com o seu jeito coloriu o dia.
e a noite também.

diálogo

_ aceita maçã?

_ não, obrigada.

_ tá docinha, hein!

_ mas eu to azeda E amarga, nem combina.

sabe o que que é? eu estou cansada.
mas não é o cansaço físico.
eu estou cansada de dizer não,
de me limitar,
de explodir bolinhas de sabão todos os dias e depois voltar pra bolha.
estou cansada de ver que as únicas alternativas que eu posso escolher são a, b, c ou d.

eu quero o alfabeto inteiro.

um roubo

falta de tempo. falta de idéias disponíveis para serem colocadas no papel.

parece que tudo que é lindo já foi escrito por alguém. e hoje eu queria escrever alguma coisa bonita. mas não veio. nadinha. então roubei.

inesperada

eu preciso de alguém que me dê tempo
de fechar meus olhos e ser, apenas.
eu preciso de alguém que saiba rir de mim, humano,
mas não queira rir do quanto sou ridículo (e humano).
eu preciso de alguém que me permita ir embora
e para quem eu me permita retornar.
eu preciso de alguém de quem possa sentir saudades (nunca ciúmes),
sentir vontades, sentir amor...
eu preciso de alguém que restitua em mim a ironia, criativa,
no lugar desse sarcasmo débil e devastador.
eu preciso de alguém que se torne familiar, sem se tornar óbvio.
eu preciso de alguém que imploda meus alicerces,
enquanto me ajuda a costurar novas asas.
eu preciso de alguém que não se negue a própria loucura,
que seja sincero a partir da própria loucura.
eu preciso de alguém que seja uma canção,
que eu gostaria de ter escrito, e a qual possa cantar (e tocar).
eu preciso de alguém através do qual eu sinta novamente o infinito,
me sinta novamente infinito...
eu preciso de alguém que me faça querer escolher nomes de filhos! (?!)
eu preciso de alguém que queira se perder comigo,
e se encontrar em mim.
eu preciso de alguém que me cure, enquanto acaba com minha saúde,
enquanto me leva de mãos dadas à morte.
eu preciso de alguém que nunca me desperte indiferença.
eu preciso de alguém ao meu lado, que me faça crer que sou especial sozinho.
eu preciso de alguém que crie celomas em minha prepotência.
eu preciso de alguém com quem possa chorar,
e que me faça querer chorar, apenas porque eu posso.
eu preciso de alguém que tenha paciência com meus medos,
que me resgate do Medo.
eu preciso de alguém que me ame pelos motivos certos, só pra variar...
eu preciso de alguém que me queira, odioso e odiador,
pervertido e pervertor, generoso e miserável.
eu preciso de alguém que cuide de mim sem me oprimir,
e de quem eu queira cuidar, alguém que eu queira colocar para dormir...
eu preciso de alguém que me faça querer amar a humanidade! hahaha...
eu preciso de alguém que odeie traições, convenções,
e que não leve as próprias ilusões tão a sério, a ponto de viver por elas.
eu preciso de uma mulher que seja inteligente apesar da beleza, e não a partir da beleza.
eu preciso de alguém que seja a minha escolha de cada dia.
eu preciso de alguém que saiba criar sobre a minha fúria.

talvez eu precise de um milagre, ou de uma tragédia que dê certo, um estorvo conveniente...
mas o que quer que eu pense que necessite, eu o quero eterno e urgente.

texto do trick.

mágica

eu,

dentro da bolha,

explodi.

ploc!

e virei bolinhas de sabão.

não tão boa

quando eu começo a ficar assim, meio lunática,
meio sem nada, não é bom sinal.
perdendo o sentido que eu nunca fiz.
sentindo saudade de coisas que ainda não foram embora.
com preguiça de conversar e falando sozinha.
com vontade de café e de outras coisinhas mais
(mas isso é constante).

me vendo apenas como advogada das causas impossíveis.

(sem ambiguidades, por favor!)

cansaço é relativo

um par de olheiras, bem colocado, pode ter um certo charme.

mas não foi isso que o espelho disse hoje, pela manhã.

retrospectiva [parteV]

"e tem aquela menina, que tudo quer e nada sabe; vive dando voltas por aí perdida no tempo e espaço vestida de lilás com seus pequenos brincos de pérolas nas orelhas. às vezes, ela pula ouvindo antigas músicas russas ou pequenas grandes valsas de chopin, pula pela rua e ninguém nota a sua presença. presença de condor ou de fênix, o que lhe for mais conveniente. ela oferece suas mãos a quem passa cabisbaixo e moribundo e ninguém percebe o ato. acompanha os sorrisos num trajeto de lagartixa; até no teto ela vai e ninguém vê (sim, a lagartixa pode ser uma metáfora boba de regeneração). essa menina que aparece escondida entre os meus dedos feios e muitas vezes, coitada, escorrega das minhas mãos. acontece. eu nunca tentei prendê-la; ela simplesmente aparece de vez em quando (e some também), causando essa sensação estranha de causa e efeito não imediato, efeito paliativo a princípio, essa sensação confusa. ou melhor, essa confusão. ah, menina! é tão pequena... dizem que é verde (para mim, continua sendo vestida de lilás, sem uma cor definida do corpo, só das indumentárias - leves - e, definitivamente, verde não combina com lilás aos meus olhos. me dá náuseas, mas isso não vem ao caso, estou fugindo do assunto). voltemos à menina. é uma gracinha até. não costuma me visitar com frequência, mas eu a vejo porque falam que ela (argh, odeio frases já feitas) é a última que morre."

perversões

na mesma noite em que tentaram me algemar,

eu ganhei uma cotovelada no peito

e um hematoma na coxa.

e nada disso ocorreu entre quatro paredes.

retrospectiva [parte IV]

"... é a fatalidade de voar em círculos: você é livre mas não sai do lugar.
eu quis assim, talvez cem anos de solidão;
é possível que você me prenda, se quiser.
mas eu não peço para você ficar.
isso não.
por mais que eu queira, nunca pedirei
(negue, negue sempre).
palavras bonitas não saem com facilidade da minha boca,
não falo sobre o amor em vão
(só para esclarecer que ele não passa de uma ilusão, amargamente doce, até agora).
posso estar de passagem a cada dia,
assim como este pode ser o último.
a pequena está aí.
a pequena dor, a pequena angústia, a pequena lágrima, a pequena nota que sempre coloco no final, literalmente.
já fiz planos para o futuro sem ao menos saber sobre o agora.
todas as estrelas podem explodir que só escutarei o murmúrio incessante do monólogo das flores."

nossa. que menina melindrosa. ainda bem que essa época já passou.

"... uma escolha errada anula uma certa..."

é, faz sentido.

você já fez uma escolha errada
e foi a escolha certa?
você já fez uma escolha certa
e foi a escolha errada?

sim sim. ainda bem.

retrospectiva [parte III]

"como é difícil dizer não,
como é difícil dizer sim,
incondicionalmente;
como é difícil sentir o cheiro,
como é difícil ter o cheiro;
como é difícil ter razão
- razão subjetiva?-;
como é difícil rir das palavras afáveis
e da proteção oferecida;
como é difícil ter que ir embora,
sabendo que vai voltar;
como é difícil olhar o passado
e (não) condenar;
como é difícil ter noção das horas
e querer jogar tudo fora.

mas negue. negue sempre."

relato da época na qual eu estava quase apaixonada e não acreditava.

oftamologista

minhas pupilas estão do tamanho do mundo.

e eu não consigo enxergar nada.

viva a aniversariante!

companheira de vida nova
conhecida velha
mas amiga nova.

menina cheia de cores
menina lápis de cor
menina bonita!

padecemos do mesmo "mal"
gostamos de brincar com palavras
mas são elas que brincam com a gente.

nós tivemos a audácia de ter filhos
sem ao menos ficarmos grávidas!
filhos temperamentais...

menina da vida charmosa
repleta de peixinhos dourados
e de algumas bananas.

(mari, ficou bobo mas é de coração! te adoro, viu?)

eu tentei ser uma arte

eu poderia ter sido O Grito,
mas não sou tão expressiva.
eu poderia ter sido Monalisa,
mas não sou tão ousada.
eu poderia ter sido Guernica,
mas não estou tão despedaçada assim.
eu poderia ter sido uma natureza morta,
mas estou bem viva.

preferi ser a Amelie Poulain.

uma frase que vai ficar para a (minha) história: "droga! tem chocolate aqui..."

bordel self-service

elas fazem tudo aquilo

a quilo.

hoje, pela manhã, perdi o meu açúcar.

mas vou recuperá-lo mais tarde.

ele deve estar perdido entre os meus lençois.

gentileza

_ Ei, você tem horas?

_ Tenho sim. De quantas você precisa?

antes fosse uma paixão

eu não durmo direito.
eu não como direito.
eu fico ansiosa quando ele chega.
ele me deixa angustiada, às vezes.
eu me sinto presa por causa dele. (que triste!)
ele me sufoca.
ele não merecia essas letrinhas bobas.
eu só penso nele.
mas ele não tá nem aí pra mim.

ai, vestibular.

malcriado

eu queria tanto, mas tanto

que te fiz pequenino.

te coloquei no bolso

e você beliscou o meu bumbum.

retrospectiva [parte II]

... numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo...

e com cinco ou seis retas é facil fazer um castelo. só se for pra você. eu tentei e não consegui. um castelo? nada. só dá pra fazer uma casinha mesmo. você já conseguiu? tá, não venha me dizer que o castelo é uma metáfora do nosso doce lar e que nós temos que desenhar é uma casinha mesmo. não dá, não dá.

... brilha brilha estrelinha...

brilha? só um pouquinho? brigada.

... e fumar o meu cigarro, na falta de absintho. eu sinto tanto, eu sinto muito. eu nada sinto...

eu não fumo.

tabaco, nicotina e outras coisas.

nunca bebi absintho.

mas eu sinto tanto.

eu sinto muito.

... bom dia pinguim, onde vai assim com seu ar apressado? eu não sou malvado, não fique assustado com medo de mim...

alguém não gosta de pinguins?

eles são tão simpáticos.

e fofos.

pena que não conseguem olhar pra cima.

*suspiro*

hoje eu estou assim. meio suspiro, meio maria-mole.

uma vidinha pacata, sem acontecimentos cinematográficos, pode ser mais charmosa do que a vida eufórica que muitos desejam. eu gosto das pequenas delicadezas...

hoje eu estou assim. com alguns sorrisos suspirantes.

banho frio

a melhor sensação é aquela que aparece quando lavo o meu pescoço.

depois que me lembro que eu não sou peixinho, o banheiro já virou banheira.

era uma casa muito engraçada...

moro numa casa barulhenta

mas quando o sol se vai

o silêncio entra.

retrato

de perto
desperto
o rosto
disperso

de longe
descrevo
o rosto
discreto.

retrospectiva [parte I]

"e se eu não consigo dormir eu me transporto para a cama bordada de palavras bonitas e sinto o cheiro das tulipas, mas não gosto de receber flores, é tão triste no final, embora esteja feliz, com a felicidade patética que sempre dura pouco mas vale a pena, e eu não preciso tanto dormir como antes, já estou um pouco descansada de tudo da vida, um pouco roxa também, mas que importa agora, agora estou pateticamente feliz mesmo sem motivos aparentes e realmente nada disso importa mais que o segundo da concentração, aquele segundo demorado e morno, que faz você se lembrar da pele lisa e sem rugas de preocupação, aí você abre a torneira e tudo de ruim flui por três segundos, um pouco mais de tempo, é claro, mas flui, e você fica leve e pateticamente feliz, há quanto tempo isso não acontecia, e tudo isso por causa da falta de sono momentânea."