retrospectiva [parteV]

"e tem aquela menina, que tudo quer e nada sabe; vive dando voltas por aí perdida no tempo e espaço vestida de lilás com seus pequenos brincos de pérolas nas orelhas. às vezes, ela pula ouvindo antigas músicas russas ou pequenas grandes valsas de chopin, pula pela rua e ninguém nota a sua presença. presença de condor ou de fênix, o que lhe for mais conveniente. ela oferece suas mãos a quem passa cabisbaixo e moribundo e ninguém percebe o ato. acompanha os sorrisos num trajeto de lagartixa; até no teto ela vai e ninguém vê (sim, a lagartixa pode ser uma metáfora boba de regeneração). essa menina que aparece escondida entre os meus dedos feios e muitas vezes, coitada, escorrega das minhas mãos. acontece. eu nunca tentei prendê-la; ela simplesmente aparece de vez em quando (e some também), causando essa sensação estranha de causa e efeito não imediato, efeito paliativo a princípio, essa sensação confusa. ou melhor, essa confusão. ah, menina! é tão pequena... dizem que é verde (para mim, continua sendo vestida de lilás, sem uma cor definida do corpo, só das indumentárias - leves - e, definitivamente, verde não combina com lilás aos meus olhos. me dá náuseas, mas isso não vem ao caso, estou fugindo do assunto). voltemos à menina. é uma gracinha até. não costuma me visitar com frequência, mas eu a vejo porque falam que ela (argh, odeio frases já feitas) é a última que morre."